LogoEchoes from the Journey
Mark

Aplicações de processamento em lote e Spring Batch

6 min de leitura

18 de agosto de 2025

Banner sobre Spring Batch

Contextualização

Com o crescimento exponencial da geração de dados, surgiu o conceito de Big Data, que trata dos desafios de armazenar, processar e extrair valor de grandes volumes de dados de forma eficiente.

Dentro desse contexto, existem duas principais formas de processar dados em larga escala:

  • Processamento em tempo real (stream processing)
  • Processamento em lote (batch processing)

Ambas possuem propósitos distintos e sua escolha depende diretamente do contexto de aplicação.

ComparativoBatch ProcessingStream Processing
Natureza do processamentoDados são acumulados e processados em massaDados são processados conforme sua chegada
Frequência de execuçãoAgendada (hora, dia, semana, mês)Contínua
Casos de usoRelatórios, ETLs e reconciliação de dadosMonitoramento, detecção de fraude e alertas
Tempo de processamento normalmente encontradoMinutos ou horasMilissegundos ou segundos

Aplicações Batch

O processamento em lote possui um conjunto próprio de características e desafios:

  • Execução por fases bem definidas — O processo batch segue um ciclo previsível: inicia, processa e termina. Essa estrutura facilita a previsibilidade e o controle da execução.
  • Ausência de interface com o usuário — Os batches são executados automaticamente, geralmente por meio de um orquestrador (como Spring Scheduler, Quartz ou Airflow), sem interação direta do usuário.
  • Saída assíncrona — Como o processamento não ocorre em tempo real, os resultados são disponibilizados posteriormente. Assim, o foco está no throughput (quantidade de dados processados por unidade de tempo), e não na latência (tempo de resposta).

De acordo com Martin Kleppmann, em seu livro Designing Data-Intensive Applications, os sistemas podem ser classificados em três categorias:

  • Online — Respondem a requisições em tempo real, priorizando a latência.
    Exemplos: APIs REST, aplicações web, bancos de dados transacionais.

  • Near Real-Time (quase em tempo real) — Combinam aspectos de batch e stream, processando eventos à medida que ocorrem, com baixa latência, mas não imediata.
    Exemplos: sistemas de recomendação, atualização de dashboards, stream processors (Kafka Streams, Flink).

  • Offline — Processam grandes volumes de dados acumulados, geralmente em execuções agendadas. O foco está no throughput.
    Exemplos: geração de relatórios, ETL em data warehouses, reconciliações financeiras.

As aplicações batch se enquadram como sistemas offline.

Por que Aplicações Batch ainda são relevantes?

Apesar do avanço do stream processing, o batch continua amplamente utilizado, especialmente em cenários onde:

  • Os dados não precisam ser processados imediatamente.
  • Há vantagens de custo (máquinas podem ser desligadas após o processamento ou reaproveitadas para outras aplicações).

Modelos de Aplicações Batch

As aplicações batch podem ser divididas em três modelos, de acordo com a origem dos dados de entrada:

  • Database-driven — Dados consumidos a partir de um banco de dados.
  • File-driven — Dados consumidos a partir de arquivos.
  • Message-driven — Dados consumidos a partir de brokers de mensagens.

Curiosidade

Um dos algoritmos mais notórios nesse contexto é o MapReduce, popularizado pelo Google em 2004 para viabilizar o processamento massivo de dados.

Esse modelo inspirou frameworks como Apache Hadoop e Apache Spark.

Hoje existem diversos frameworks para desenvolvimento de aplicações batch, sendo o Spring Batch um dos mais utilizados.


Spring Batch

O Spring Batch é um framework robusto para o desenvolvimento de aplicações batch. Ele faz parte do ecossistema Spring Framework.

Ele oferece:

  • Ferramentas para leitura, processamento e saída de dados.
  • Tratamento de falhas e reinício automático.
  • Monitoramento e controle de execução.
  • Formas padronizadas de escalabilidade.

Importante: o Spring Batch depende de um banco relacional para persistência dos metadados de execução.

Características

O Spring Batch possui diversas características que permitem ao desenvolvedor:

  • Modelar fluxos de processamento em lote de forma estruturada, com Jobs e Steps.
  • Processar dados em blocos (chunk-oriented processing), garantindo eficiência e controle de transações em grandes volumes de dados.
  • Controlar o estado e reiniciar execuções (restartability), retomando o processamento a partir do ponto de falha.
  • Gerenciar transações automaticamente, assegurando consistência mesmo em cenários de falha.
  • Escalar e paralelizar tarefas, em múltiplas threads, processos ou ambientes distribuídos (via Spring Cloud).
  • Personalizar fluxos e componentes (leitores, escritores, processadores, políticas de retry/skip).
  • Tratar erros de forma robusta, definindo políticas de retentativa, ignorando registros problemáticos ou interrompendo a execução.
  • Integrar com diferentes fontes de dados, como bancos relacionais, arquivos (CSV, XML, JSON), filas de mensagens ou serviços externos.
  • Monitorar e auditar execuções, fornecendo métricas detalhadas e rastreabilidade.

Fundamentos

A arquitetura do Spring Batch é dividida em três camadas:

  • Application — Código customizado do desenvolvedor.
  • Core — Contém os elementos necessários para executar uma aplicação batch.
  • Infrastructure — Fornece ferramentas de suporte ao desenvolvimento.

Linguagem de domínio

Principais conceitos do Spring Batch:

  • Job — Representa o processo batch.
  • JobInstance — Execução lógica única de um job.
  • JobParameters — Parâmetros utilizados em uma execução.
  • JobExecution — Representa cada execução de um job (status, início, fim etc.).
  • Step — Etapa individual de um job.
  • StepExecution — Execução técnica de um step.
  • ExecutionContext — Armazena informações auxiliares durante a execução.

Esses conceitos são representados por objetos e persistidos nas tabelas de metadados do Spring Batch.

Componentes funcionais

Componentes principais disponibilizados pelo framework:

  • JobLauncher — Inicia a execução de um job.
  • JobRepository — Gerencia estado e persistência de metadados.
  • ItemReader — Responsável por ler os dados de entrada.
  • ItemProcessor — Aplica lógica de negócio (transformar, validar, descartar).
  • ItemWriter — Escreve os dados processados na saída (arquivos, banco, etc.).

Estratégias de execução

O Spring Batch suporta duas estratégias de execução:

  • Tasklet — Indicado para processamentos simples e diretos (ex.: verificação de diretórios, tarefas de preparação).
  • Chunking — Indicado para grandes volumes, otimizando uso de CPU e memória. Esse é o modelo mais utilizado em batches complexos.

Exemplos de implementação

No repositório abaixo, são implementados dois jobs:

  1. Tasklet — Um simples HelloWorld.
  2. Chunking — Processamento de um arquivo CSV com persistência em banco de dados.

Esses exemplos podem servir como base para construção de batches mais complexos.

📂 Repositório: spring-batch-handson

📚 Referências

Spring Batch Docs - https://docs.spring.io/spring-batch/docs/current/reference/html/

Enterprise Integration Patterns – Gregor Hohpe, Bobby Woolf

Designing Data-Intensive Applications - Martin Kleppmann

Spunk Article - https://www.splunk.com/en_us/blog/learn/batch-processing.html